Clinical Oncology Letters
https://www.clinicaloncologyletters.com/article/doi/10.4322/col.2025.002
Clinical Oncology Letters
Editorial

Editorial

Auro del Giglio

Downloads: 0
Views: 157


Caro leitor,

É com grande satisfação que apresentamos mais um fascículo de nossa revista, trazendo reflexões importantes sobre os desafios enfrentados pelos oncologistas clínicos no Brasil. A prática da oncologia, embora gratificante, carrega consigo obstáculos significativos que podem impactar a satisfação profissional e a qualidade do cuidado prestado aos pacientes. Entre esses desafios, destaca-se o esgotamento profissional, uma realidade preocupante que tem sido amplamente discutida na literatura médica. A carreira de um oncologista clínico no Brasil, embora motivada pelo nobre objetivo de aliviar o sofrimento humano, enfrenta dificuldades que podem comprometer seu senso de propósito e levar ao burnout. Atualmente, esses profissionais navegam por um cenário de saúde complexo, onde os  setores público e privado se entrelaçam em meio a diferentes níveis de disponibilidade de recursos. Pressões  financeiras, a carga emocional do manejo de doenças terminais, jornadas exaustivas com altos volumes de pacientes e a sobrecarga burocrática contribuem significativamente para a insatisfação profissional. De fato, a prevalência de esgotamento entre os profissionais de saúde, particularmente na oncologia, é alarmantemente alta, atingindo até 44%, conforme observado por Shanafelt. Esse esgotamento caracteriza-se por exaustão emocional, despersonalização e uma reduzida sensação de realização pessoal, aspectos comuns entre aqueles constantemente expostos aos estressores do ambiente de saúde. As reflexões de Viktor Frankl sobre encontrar significado nas circunstâncias mais desafiadoras da vida são particularmente relevantes nesse contexto. Ele argumentou que, mesmo em situações adversas, uma pessoa pode encontrar propósito e, assim, uma razão para continuar. Essa perspectiva pode ser transformadora para os oncologistas, lembrando-os de que seu trabalho tem um significado profundo além dos desafios imediatos. Eric Topol enfatiza o potencial das ferramentas digitais para libertar os médicos das tarefas administrativas,  permitindo uma interação mais significativa com os pacientes.4 Esse “presente do tempo” possibilita conexões mais profundas e um cuidado mais humanizado, abordando diretamente o problema da redução do tempo dedicado ao paciente. Tais conexões aprimoradas são fundamentais para humanizar as interações médico-paciente, um passo essencial para restaurar o senso de propósito e satisfação na prática médica. Além disso, a promoção de práticas de autocuidado, como a atividade física regular, descanso adequado e períodos de férias, pode impactar significativamente a saúde mental e a resiliência.1 A redução da carga burocrática  por meio do uso eficiente da tecnologia e da equipe de apoio permite que os oncologistas se concentrem mais no cuidado ao paciente.4 O aprendizado contínuo e a mentoria, como defendido por William Osler, inspiram e revitalizam os profissionais. Osler enfatizou a importância da influência pessoal e da sabedoria na prática da medicina, incentivando os médicos a enxergarem sua profissão como um chamado, e não apenas um trabalho. Ao abordar as questões sistêmicas que levam ao esgotamento e reforçar os valores essenciais da prática médica,  podemos ajudar os jovens oncologistas a redescobrirem o significado e a satisfação em seu trabalho essencial. A carreira de um oncologista clínico, embora indiscutivelmente desafiadora, também é profundamente gratificante. Abordar essas questões de maneira holística pode promover uma prática mais sustentável e satisfatória para aqueles que estão no início de suas carreiras. Aproveitamos a oportunidade para convidar nossos leitores a explorarem os demais artigos desta edição, que  abordam temas relevantes para a oncologia clínica. Além disso, encorajamos a submissão de trabalhos científicos  que contribuam para o avanço da área, sempre com o compromisso de divulgar conhecimento baseado em evidências de alta qualidade.  Mais uma vez, convidamos o leitor a acessar nosso site (www.clinicaloncologyletters.com), onde poderá encontrar o conteúdo da revista na íntegra e conhecer as normas para publicação e submissão de artigos.

Boa leitura!

Dr. Auro del Giglio

Referências

1. Lyckholm L. Dealing with stress, burnout, and grief in the practice of oncology. Lancet Oncol. 2001 Dec 1;2(12):750–5.

2. Shanafelt TD, West CP, Sinsky C et al. Changes in burnout and satisfaction with work-life integration in physicians and the general US working population between 2011 and 2017. Mayo Clin Proc. 2019 Sep 1;94(9):1681–94.

3. Frankl VE. Man’s search for meaning. 15th ed. Pocket Books; 2006. 192 p.

4. Topol EJ. High-performance medicine: the convergence of human and artificial intelligence. Nat Med. 2019 Jan;25(1):44–56.

5. Osler W. Aequanimitas. Wentworth Press; 2016. 392 p.


Submetido em:
01/02/2025

Revisado em:
14/02/2025

Aceito em:
15/02/2025

67b056b4a953953ba63ee073 col Articles
Links & Downloads

Clin Onc Let

Share this page
Page Sections